sábado, 10 de janeiro de 2009

60º

Certa vez o filho de André Azevedo perguntou ao pai por que o Dakar é chamado de rally da morte. O piloto ficou um pouco desconsertado. Também, pudera: ele mesmo corria o rally já há anos. Como explicar para o filho por que a prova em que papai corre é conhecido por este nome?

O Dakar contabilizou nesta sexta-feira sua 60º morte. Claro, essa contagem causa certa desconfiança: como colocar na lista dois locais que chocaram-se com um caminhão de uma empresa que fazia logística da prova? Eles não morreram por causa da competição. Mesmo se pode dizer de Pacal Terry, encontrado morto na madrugada de terça para quarta.

Mas ninguém tem como causa-mortis o rally Dakar. Morre-se por lesões nos órgãos e nos ossos, pescoços partidos, órgãos perfurados.

O fato é que esse dois talvez não tivessem morrido não fosse um caminhão prestando serviço ao rally aparecer por lá (não estou entrando na questão religiosa da morte ser considerada, por algumas crenças, pré-estabelecida antes do nascimento).

Contabilizadas essas sessenta mortes, várias perguntas surgem: por que existe o Dakar? Por que as pessoas partem para essa prova mesmo tendo conhecimentos dos riscos envolvidos? E mesmo depois de terem ido, terem sofrido, ficado horas e horas sem dormir, por vezes noites na trilha a espera de socorro, sofrido todas as adversidades possíveis, eles terminam o Dakar já pensando no próximo ano?

Não pensem que é privilégio do Dakar. A prova foi criada justamente porque Thierry Sabine passou três dias perdido no deserto do Ténéré, em 1973, durante o rally Abdijan-Nice. Lá, prometeu que se saísse dessa vivo, organizaria o maior rally do mundo com uma infra-estrutura a serviço da segurança dos competidores.

E o que o levou a achar que pessoas participariam desta prova?

"Pra superar os próprios limites", me responderam. Superação. É isso que faz os competidores seguirem para o rumo do Dakar. Superar os limites, olhar para trás e falar "eu consegui".O mesmo que leva, por exemplo, um alpinista a escalar o monte Everest.

Não é o bastante? É, sim. É uma sensação de dever cumprido, mesmo não sendo um dever. Não é a dor. É o prazer de entrar em um carro e partir a caminho de algum lugar que não se sabe, pronto para cruzar todos os obstáculo a sua frente.

Nada que eu diga aqui vai convencer aqueles que não acreditam na força que a vontade de superação tem. Na força da adreanalina. Do coração pulsando. Da sensação de aventura, do desconhecido. Do sonho do desafio. Isso. Do desafio. Da vida, da morte. Alguns conseguem. Outros morrem tentando.

Nenhum comentário: