quinta-feira, 6 de junho de 2013

A revolução foi tuitada (e será vinada)

A Primavera Árabe foi tuitada. Na Turquia, Vine e Youtube guardam registros das manifestações. As mídias sociais estão aí e devem ser usadas não só para Instagramarmos o que comemos no almoço.

A intenção aqui não é discutir se o que aconteceu em São Paulo foi certo ou errado. Está por fora? Então, resumindo: protesto contra o aumento da tarifa de ônibus, polícia descendo o cacete, quebra-quebra. A história de sempre.

Mas não é isso que vamos discutir.

Enquanto tudo acontecia na Avenida Paulista, eu estava em casa, um celular com twitter na mão e nenhuma informação. Pensei em algumas hashtags óbvias - #OccupyPaulista, #OccupySP, confesso que esqueci o termo Primavera Paulistana -, pesquisei por Paulista. Pouca coisa. E nada de quem estava lá. Nenhuma foto, poucos relatos (só li um, na verdade). Acabei não procurando no Instagram, e o Vine  parece que ainda precisa comer muito feijão com arroz. Pensando na proporção da situação (pelo menos era o que a BandNews dava a entender no rádio, enquanto eu ainda estava a caminho de casa), poucos tuítes foram produzidos na minha TL - e olha que teria gente para tuitar. Pelo que entendi, algumas redes de televisão sobrevoavam a manifestação. Fim.

A Globo tem o ponto de vista dela. A Record, a Band, a Rede do Zé da Esquina. Todas vão enxergar as coisas de uma maneira diferente. É natural. Entre todas essas vozes, a das pessoas que estavam por lá se perde. Por que vocês não tuitaram, manifestantes? Por que não instagramaram? Vinaram? Tá certo que o 3G da Paulista não é lá essas coisas e o negócio tava pegando fogo, mas será que não tinha alguém lá que pudesse registrar? E onde estavam as pessoas para espalharem esse registro? Eu procurei e não achei. Ninguém melhor para explicar o que aconteceu do que quem estava lá. E tenho certeza de que teríamos vários pontos de vista que enriqueceriam uma possível discussão, fosse acerca da passagem, fosse acerca da violência dos manifestantes, fosse acerca do policiais. Tá certo que ainda me questiono se sabemos mesmo discutir racionalmente, mas podíamos, pelo menos, usar as ferramentas para testarmos.

As redes sociais nos deram uma voz imensa para publicarmos todo o tipo de abobrinha possível. Por que deixamos essa abobrinha passar? Não tinha importância? Ora, toda manifestação tem importância e merece atenção. Foi uma delícia quando, no ano passado, tuitei que não poderia participar da Marcha das Vadias (assim, sem hashtag) e alguém me respondeu que usando #marchadasvadias já era válido. Taí, unindo o on e off. Sem ativismo de sofá, mas também mostrando que as redes podem estar onde o protesto está.

Foi isso que mais senti falta hoje. Poder saber o que estava acontecendo de quem estava ali por perto. Ver vários pontos de vista. Levantar ideias. E não vi isso acontecer. Não vi o tal protesto chegar às redes e, como dizem por aí, gerar buzz. E gerar buzz nem é tão difícil assim, galera.

"A revolução não vai ser televisionada." E, pelo visto, nem tuitada ou vinada.