segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Dedicatória

Eu te dei um livro com uma dedicatória. Finalizava com um "com amor". Podia ter escrito, também, "com muito amor", "com todo amor do mundo" ou qualquer uma de suas variantes. Mas foi um simples e sincero "com amor", mesmo.

Eu não escrevo dedicatórias. Dou livros a rodo e nunca escrevo nada. Mas, pra você, eu escrevi. Uma mensagem boba e cheia de significado.

E hoje eu me pergunto se esse amor morreu em algum sebo da vida.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Quando um MUSO se aposenta

"Adeus, adeus, adeus... palavra que faz chorar" - Noel Rosa

Alguns podem dizer que tanta comoção é exagerada, já que, tecnicamente, Loeb não deixará o WRC agora - inclusive tem chances de ser deca-campeão (???) ano que vem, mesmo correndo umas 4, 5 provas.

Mas fato é que 2012 marca o fim de uma era. Talvez não uma era com disputas acirradas e carros à Grupo B, mas uma era em que vimos a evolução de um verdadeiro gênio do rali.

Loeb brilhou não só no WRC. Mostrou valor também nas pistas, chamou a atenção de gente especializada em asfalto e já pode ser coroado com um dos melhores pilotos da história do automobilismo.

Para quem acha que Loeb só é muso desse blog por causa da beleza, charme e sedução, engana-se. Loeb é soberano. Bateu recorde atrás de recorde no Mundial de Rali, foi campeão mesmo tendo quebrado o braço antes de terminar a temporada, mostrou que quando se é Loeb, não precisa forçar para ficar acima da média.

Pode ser que seu tipo de pilotagem não agrade todo mundo. É compreensível. Já ouvi relatos de que a pilotagem dele é tão perfeita que começa a ficar sem graça depois de um tempo. A perfeição tem esse defeito: encanta, mas faz as coisas ficarem um pouco sem graça.

Mas mesmo que o WRC já não tenha ar de surpresas há anos por causa exatamente dele, não existe quem não lamente, pelo menos um pouco, a aposentadoria de um ídolo desses. A partir do ano que vem, uma nova história começa a ser escrita no campeonato. Melhor? Pior? Só o tempo vai dizer. Mas uma coisa eu sei: por muito tempo ainda sentiremos falta de algo, e esse algo responde pelo nome de Sebastien Loeb.

PS: Nenhum piloto consegue ser tão bem-sucedido sem um grande navegador. Daniel Elena merece boa parte dos louros desses nove campeonato. Afinal, para chegar até onde Loeb chegou, só com um gênio como Elena do lado.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O que uma fila com Mia Couto me ensinou

É engraçado como, às vezes, algumas coisas parecem fazer um sentido imenso, mesmo quando não fazem. Tipo ontem.

Peso absurdo nos ombros, pé ainda lesionado, aula de inglês rolando e eu lá na Cia. das Letras, no Conjunto Nacional, esperando por Mia Couto. Nem era a palestra, cheguei atrasada e tal. Era a tal sessão de autógrafos, mesmo, esse momento tão inútil em que esticamos um livro para um autor, ele assina, sorri, te devolve o livro pra você e fim. Assim, desprovido de emoção - pelo menos de uma das partes.

Embora eu não seja de pedir assinatura quando o escritor em questão não diz nada para mim. Tem lá o livro de Samantha Power, "with hope", também assinado por Carolina Larriera, viúva de Sergio Vieira de Melo. E tem o do Pedro Bandeira, para a "querida Amanda", e nesse querida vive uma intensa discussão sobre por que eu preciso acreditar no mundo - estou tentando, seu Pedro, estou tentando.

Mas voltemos ao Mia Couto, já que a história com ele também é longa.

"O último voo do Flamingo" - e voo em Moçambique já não tinha acento muito antes do novo código e blá -  fez parte da lista de livros da Cásper Líbero em 2007, ano em que, vejam só vocês!, também prestei vestibular. Não passei e roguei todas as pragas possíveis ao jornalista, mal aê, seu Cásper, não quis ofender.  Mas a lista de livros da Cásper é de tirar o chapéu. Livros e filmes, aliás. Coisa de quem quer uma análise mais aprofundada da arte de escrever, não só enfiar os clássicos guela abaixo. Naquele ano, além de Mia Couto, Manoel de Barros também fazia parte da lista. E Carandiru, se não me engano. Talvez Drummond, Machado de Assis, Guimarães Rosa e Chico Buarque. 

A Cásper me ensinou a ter mais amor pela língua portuguesa. Depois disso, li mais Chico, li Lygia, me apaixonei perdidamente por Quintana e Manoel de Barros. Porque, que me desculpem os amantes de José de Alencar, mas se dependesse de Iracema, nada disso teria acontecido. 

(Claro, muito do mérito também via à professora de literatura do cursinho, que me ensinou muito de preciosismo e comparava Manoel sempre a uma bala de coco.)

Então parece que, apesar da tragédia que foi não passar no vestibular da Cásper, sonho de adolescência, eu aprendi muito com toda essa experiência. E um dos professores que me ajudou a passar por essa jornada não foi outro que não Mia Couto. Talvez não pessoalmente, mas por meio de suas sábias e preciosas palavras.

PS: é engraçado como a gente absorve algumas coisas. Hoje, vejo um pouco de cada um dos autores que tanto admiro no jeito de escrever. E ainda tem gente que alega não gostar de ler.  Para eles, cito minha professora de literatura do Ensino Médio: não existe essa de não gostar de ler. Existe é que as pessoas ainda não encontraram o livro da sua vida. Beijos, Edna!

domingo, 4 de novembro de 2012

Virando gente grande

A gente às vezes tem aquele sonho de casar com um cara rico e não fazer nada - ou melhor, fazer as coisas que a gente quer, sei lá, viajar, viver de leitura, filmes, etc - ou, melhor ainda, ter nascido em berço de ouro - e repete a história de viajar, ler, etc. Enfim, qualquer coisa que signifique não trabalhar porém ser podre de rico.


Mas aconteceu uma coisa engraçada durante essa semana. Tipo uma epifania. Foi uma coisa simples, o ato de sair do escritório para almoçar, mas aquilo, naquele momento, me trouxe muito mais que isso.

Eu tava ali, indo para um almoço que eu pagaria do meu próprio bolso - porque eu tenho um salário. Para alguém que já está no mercado faz tempo, isso pode não parecer nada. Mas eu era universitária até o ano passado e, apesar de já ter trabalhado, não era uma coisa concreta. É como se, por ainda estar na faculdade, classe média, etc, etc, eu tivesse um ~aval~ para não me preocupar muito com o meu dinheiro.

Mas aí, de repente, eu virei gente grande. Tenho um emprego - um emprego do qual eu gosto muito -, tenho um salário e aprendi a administrá-lo. Outro dia li um texto que falava mais ou menos sobre isso, no caso, sobre finalmente conseguir o seu cantinho. Eu tenho esse sonho de ter o meu cantinho, minhas coisas, meus livros, meu zilhões de gatos e tal, mas, por enquanto, outros planos fazem com que eu também me sinta mais independente, mais responsável. Planos pequenos mas que, para mim, são um paso enorme. Como: a viagem do ano novo. Besteira? Pela primeira vez vou fazer tudo com o dinheirinhos que eu ganho por causa do meu trabalho. A tintura e corte do meu cabelo. O almoço da semana, as saídas no fim de semana, o cinema, os livros, as maquiagens. O bar. A poupança para poder viajar em 2013 e ainda sobrar um pouquinho para ajudar na pós-graduação ou no curso de extensão. Coisas simples - mais que uma casa, pelo menos! - mas que já dão um gostinho de "putz, eu conquistei isso! Vou passar o ano novo com os amigos por causa do MEU trabalho".

Então eu fico pensando que, embora fosse ser bacana ter nascido rica para poder viajar pelo Brasil e o mundo vááárias vezes ao ano - eu me sentiria a pessoa mais milionária caso pudesse fazer isso -, poder guardar algum dinheirinho pra poder pagar alguma viagem legal do meu próprio bolso me parece muito mais gratificante. E eu não trocaria esse momento da vida nem por todo o dinheiro do mundo.



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Um texto que não é só sobre cabelos

Dizem que uma grande mudança de vida vem acompanhada por uma grande mudança no visual, e vice-versa.

Nada disso passou pela cabeça quando eu resolvi entrar para o time das ruivas de farmácia, mas acabou que vida e cabelo se cruzaram e, sim, entrei para o ranking das "grandes-mudanças-na-vida-grandes-mudanças-no-cabelo".

É um desejo de criança. Achava o universo ruivo a coisa mais massa do mundo, venerava Lindsay Lohan (sim, é verdade) e sonhava com a cor 77 da Loreal todos os dias.

Foi assim que, lá pelo final de janeiro/começo de fevereiro - aliás, exatamente pelo final de janeiro/começo de fevereiro -resolvi pintar o cabelo.

Como são as coisas. A adesão à ruividez coincidiu com outro momento decisivo da vida. É daquelas horas em que a gente precisa se despedir, mesmo não querendo. Em que a distância faz-se necessária para evitar futuras dores - mas não evita, na verdade.

Já refleti longamente sobre isso por aqui. Mas não falei uma coisa: foi no dia em que fiquei ruiva que histórias de separação passaram a doer forte no peito. Qualquer uma. Do casal famoso que acabou o namoro à fulana que vai morar longe dos amigos. Fui viajar e a cada pessoa que eu me despedia nos meus 20 dias de mochilão, o peito doía cada vez mais. A cada lugar. A cada castelo. A cada paisagem. Uma lágrima chegou a cair quando me vi na King's Cross pronta para embarcar pra Edimburgo.

Foi quando fiquei ruiva que desaprendi ainda mais a me despedir. Cada tchau dói mais desde então. Assim como doem os nunca e os pra sempre, porque a gente acredita, mesmo sabendo que não é verdade.

Ao contrário do que eu esperava, passei a amar mais. Os amigos, a família, as viagens, a arte, a música, o trabalho. Porque, apesar da dor ser muito mais forte quando a gente se despede, a gente sabe que aproveitou cada momento - foi o Ale que me ensinou isso. A gente sabe que viveu.

As saudades apertam de vez em quando - e a essa altura do campeonato, já estou com os olhos cheios de lágrima, sorte que foi todo mundo almoçar fora. Mas aí eu olho pro espelho e percebo que preciso retocar o ruivo dos cabelos. E aí tudo volta a ficar bem.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Quando vi Elvis cantando

Um show de uma pessoa que já morreu é algo difícil de ser concebido. E de um morto há 35 anos, então, como proceder? Eu era uma das milhares de pessoas no Ginásio do Ibirapuera prontas para ver um dos quatro espetáculos de Elvis em São Paulo. "Elvis". Elvis já morreu, mas, ali, naquele palco, ontem à noite, parecia mais vivo do que nunca.

Mérito de sua banda, ou dos membros que sobraram. O tempo, afinal, passa para todos. Mas estavam lá alguns nomes fortes, como James Burton, The Imperials, Sweet Inspirations e o Steven Spielberg baterista - aka Robson Crusoé lá nos anos 70. Vou falar uma coisa para vocês: nunca um grupo de senhores me conquistou tanto quanto esse. Todos com uma energia de quem está fazendo algo por puro amor. Coisa linda de se ver. Saí de lá encantada por todos e triste porque, provavelmente, nunca mais tereia chance de vê-los em ação de novo.

Mérito da orquestra (OSESP?). Especialmente em An American Trilogy, uma das minhas músicas preferidas e que tem o instrumental mais foda que já vi. O flautista brasileiro não deixou nada a dever em seu solo, assim como a violinista em My Way. Tudo lindo, lindo, lindo.

Mérito da Elvis Enterprises e da 2Share, que produziram um show desses. O telão, o som, tudo faz crer que Elvis está ali, mesmo. A edição dos vídeos é surpreendente, com o cantor ~interagindo~ com a plateia o tempo todo. É um espetáculo.

Mérito, acima de tudo, de Elvis, que deixou um legado desses. Juntar gerações em torno de uma figura morta há 35 anos não é para qualquer um. Ninguém conseguiria explorar sua imagem tão bem se não houvesse nada para ser explorada. Minha mãe se emocionou com o show. Eu me emocionei. Minha irmã se emocionou. Foi uma coisa linda ver a plateia cantando Bridge Over Troubled Water, foi arrepiante ouvir Elvis cantando My Way ou os Imperials o acompanhando em How Great Thou Art.

Não importa o quanto eu escreva, nada vai descrever com exatidão o que foi a noite de segunda-feira naquele ginásio. O mais próximo que cheguei a isso foi, em um tweet, me localizar em uma ElvisWeek fora de época. Era amor, felicidade, emoção. Tudo junto para poder assistir a um verdadeiro espetáculo.

A única bola fora: o Uol decidiu divulgar um app convidando Cássio Reis para subir ao palco. Recebeu vaia, fiquei até com dó. Mas, que me perdoem as fãs dele, ninguém estava lá para ver o cara. Total #fail.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Rali, décimo ano

No final das contas, precisou de apenas um motivo para eu optar por fazer jornalismo: a vontade de ver o rali crescer, evoluir e conquistar cada vez mais espaço na imprensa. Do alto dos meus 12/13 anos de idade, eu queria mudar a mentalidade da imprensa esportiva e enfiar-lhes rali guela abaixo, embora meu sonho à época fosse escrever para uma revista ESPECIALIZADA no tema.


Cresci, evoluí, abracei o jornalismo, parti para um mundo novo da comunicação, hoje flerto cada vez mais com a publicidade. Trabalhei em site de automobilismo, escrevi matérias sobre rali mas, na realidade, nunca estive presente profissionalmente nesse esporte. Tentei, mas tudo tem seu tempo.

Mas, independente dos sonhos malucos daquela garota de 13 anos, o rali também cresceu. Em dez anos, vimos o Sertões, exemplo máximo do esporte no Brasil, assumir a responsabilidade como etapa do mundial do mundial de motos e, em seguida, do de carros. Recebeu estrelas de grandeza maior como Marc Coma, Cyril Després, Nasser Al-Attyah, Giniel De Villiers, Carlos Sainz (tks, Felipe!) para chegar em 2012, com a grande lenda Stephane Peterhansel integrando a lista de inscritos da prova. Nesses dez anos, o Sertões firmou-se como segundo maior rali do mundo, nada mal para um país que, sejamos francos, não tem a cultura do esporte correndo na veia.

Mais do que isso: ganhamos mídia e reconhecimento. De repente, aquele esporte que ouvia de emissoras "nós só falaremos do Dakar quando um brasileiro morrer" (na morte do francês Bruno Cauvy no começo dos anos 2000) passou a fazer parte da agenda da imprensa nacional, pelo menos nos meses de julho/agosto e dezembro/janeiro. É pouco? É. Mas já é muito, principalmente levando em conta que os campeonatos nacionais ainda não têm uma fundação bem resolvida. Hoje eu posso, não sem orgulho, fazer esteira enquanto vejo o Bom Dia, Brasil falando sobre o Sertões, colocando os nomes de pessoas caras a mim ali na telinha. Hoje eu posso receber uma mensagem de um amigo falando "Profissão Repórter na Globo: reportagem sobre o maior rally do mundo (sic) =)".

Ainda falta muito? Falta. Bastante. O tema rali ainda passa longe de vários jornalistas especializados em automobilismo, mas ganhou espaço. Um exemplo? Fernando Silva, do Grande Prêmio, é um grande entusiasta de rali e já deu as caras em duas edições do Sertões, com coberturas muito bacanas para um dos maiores sites de automobilismo do Brasil (inclusive com uma boa entrevista com o mito Peterhansel, assim que eu achar o link posto aqui).

Só me paira uma dúvida de vez em quando: o quanto a própria comunidade ralizeira quer isso? Algumas discussões nas últimas semanas me fizeram por em xeque essa vontade. Será que estamos prontos para correr atrás do profissionalismo necessário para crescermos ainda mais? Ou será que passaremos o resto da vida reclamando dos carros gringos que vêm correr o Sertões?

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Onze de setembro, onze anos depois

O dia 11 de setembro tem se tornado um dos maiores clichês do ano. É sempre a mesma coisa: onde você estava, com quem, fazendo o quê e, mais importante, como esse dia mudou o mundo. Pois hoje estava contando a velha história-sem-história (eu tinha dez anos, afinal, e ninguém ia sair contando uma coisa dessas em plena manhã de aula) e fiz, pela primeira vez, uma triste reflexão: esse foi o meu primeiro contato com essa realidade cruel do mundo.


De repente, tudo deixava de ser uma coisa cor-de-rosa para ganhar nuances de cinza. Alguém havia sequestrado dois aviões e jogado-os contra dois prédios lotados de gente. Era crueldade demais. E era real.

Depois disso, palavras como guerra e terrorismo tornaram-se comuns no dia-a-dia. Surgiu o tal do Bush que invadiu o Afeganistão atrás daquele tal de Bin Laden, que, diziam, era um dos responsáveis pelo plano pra tacar os aviões e por mais um monte de outras coisas ruins. Mas o tal Bin Laden tinha sido treinado dos EUA, era amiguinho deles em um passado não muito distante. O mundo era um lugar muito mais difícil, sujo e cruel do que eu imaginava. Até então, a ruindade do homem estava em jogar papel na rua, matar animais. Não tinha essa de matar dezenas, centenas, milhares de inocentes. Mas aconteceu. E continuou a acontecer, e continua a acontecer.

E o que ficou disso tudo? A tristeza por descobrir, hoje, que minha infância começou a acabar naquele onze de setembro.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Quando a gente acha que o abuso tem justificativa

Hoje, a Manu Barem colocou no twitter que (quase) foi abusada por um cara. Estava andando na rua, o ser a levou para um beco e abriu a camisa dela. Ela reagiu, gritou, bateu no cara e conseguiu escapar.

"Ser mulher é foda, triste, imensamente triste", escreveu ela no twitter. E é, mesmo. Por motivos como esse. Não só do abuso em si, mas que, depois de um evento desses, sempre surge a pergunta: mas com que roupa ela tava?

(e sei lá se já surgiu no caso da Manu, e, caso tenha surgido, já mando à merda a pessoa que ousa pergunta uma coisa dessas)

É como se a roupa fosse um convite. Como se, caso estivesse com uma mini-saia, o cara tivesse o DIREITO de abusar da mulher.

Não, não tem. Nem se a mulher estivesse nua ele teria. Mas todo mundo acha que tem. E isso é triste, muito triste.

Às vezes nem é um caso assim como o da Manu. É difícil encontrar uma mulher, por exemplo, que não tenha uma história de homem passando a mão nela dentro do ônibus. Eu tenho, e vou dizer uma coisa: a gente fica assustada depois. Mesmo que seja uma """"simples"""" passada de mão.

Nós não não somos um pedaço de carne, mas acham por aí que isso é mentira. Quem acha? As pessoas que justificam o estupro pela roupa, pela atitude, pelo caralho a quatro. Que dizem "depois é estuprada e não sabe por quê". Ou que, quando uma mulher reclama que passaram a mão na balada, bufam e falam (nesse caso, os homens): "vocês reclamam, mas a gente ia adorar mulher passando a mão na gente". Sim, já ouvi argumento do tipo. E achei nojento, porque não tem nada de legal em um cara apertar sua bunda só porque te achou gostosa.

A gente critica a burca, mas no ~mundo ocidental~ é mesmo tão diferente? Não precisamos andar cobertas, mas policiais aconselham a prática se não quisermos ser vítimas de estupro. Falamos a toda hora sobre fulaninha por andar com roupa curta, decote, calça justa como se isso fosse problema nosso. Não, não é. E também não é convite para estupro ou abuso.

(Aí a gente escreve isso e depois é chamada de feminista. Feminista por quê? Porque acha que é UM DIREITO nosso não ser estuprada, não ser abusada, não ter o braço quebrado na balada porque não quis beijar o cara?)

Por fim, Fernando Luna em um editorial GENIAL da Tpm de um ano atrás. E é isso que resume tudo: queremos respeito. Apenas isso.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Curadoria de links

(Porque o twitter é passageiro demais e floodar a TL dos outros no Facebook não é minha atividade preferida)


Estava andando por essa grande rede que vocês chamam de internet quando cruzei com alguns links interessantes. Nada mais justo do que dividir com vocês, essa meia dúzia de pessoas que acessa esse espaço!

The Last Meals Project - algum dia, o fotógrafo Jonathon Kambouris teve essa ideia genial de fotografar as últimas refeições dos presos que estão no corredor da morte lá nos EUÁ. Opiniões acerca da pena de morte à parte, vale a pena dar um pulo no site e conferir o trabalho do cara. Ele ainda mescla as obras com informações sobre essa ~prática~ meio... ahn... polêmica.

Ainda falando sobre a última refeição dos presos no corredor da morte, essa entrevista bacana da Trip e reproduzida pelo Marketing na Cozinha vale a pena ser lida. O personagem foi, durante mais de dez anos, responsável por cozinhar os pedidos dos condenados. Aliás, o Marketing na Cozinha como um todo merece ser visitado. São textos que vão além das panelas e fogões, como é o caso desse texto que fala sobre o preconceito em torno de pratos/restaurantes finos.

O Blog do Bérgamo é outro que merece entrar nos favoritos (inclusive será incluído à lista de links, se ela algum dia voltar a existir). Cada palavra dele vale ouro. E mesmo se não valesse, as fotos já são joias raras. Destaque para o post mais lindo que já vi na vida. Quer coisa mais delicada?

Outro que vai entrar na lista aqui do lado é o Memórias do Mar Preto. O blog de poemas do @cirohamen já faz parte dos sites que acesso diariamente - porque eu gosto de ler e reler e rereler as coisas, mesmo, principalmente quando os tais textos conseguem dizer tanto sobre coisa nos são tão caras.

Por último, mas não menos importante: os textos da Amelia (e agora do Dave, também) no Huffington Post. Para quem não sabe, um dos filhos dele (acho que tem sete anos de idade, carece de fontes, como diria a Wikipedia) declarou ser gay há algum tempo (famosa expressão para "não sei quando). Ali, eles relatam o dia-a-dia com a comunidade em que vivem, escola, amigos, etc, etc. Por que é tão bacana? Porque muitas pessoas vão falar "ah, ele é muito novo para assumir isso". Ué, então um guri falar que gosta de gurias também é estranho, não? Ele não é muito novo pra assumir isso?

Enfim, Amelia e Dave abordam exatamente temas como esse. Vale a pena a leitura, também, quer você concorde com a opinião deles ou não (embora eu não entenda como pessoas podem não concordar com a premissa básica de que qualquer um pode amar qualquer um e ponto)

domingo, 24 de junho de 2012

Lembranças sobre um mesmo tema

Ale,

os espasmos nos olhos passaram, mas a saudade não. A saudade fica, dói, corrói. Saudade é um bicho malvado.

Fico pensando se eu ia escrever pra você como (in) constantemente eu faço. Acho que não, Ou ia. Sei lá, é muito se pra pouca vida.

Tô cansando muito de mim mesma e todo esse "monotematiquísmo". Mas é bom, né? Porque assim a gente desapega alguma hora e tá livre outra vez. Livre pra que eu não sei, mas livre.

Mas por enquanto a gente só finge. Vai ao cinema, vai pro bar, vai sair por aí, vai. Mas não vai. Lá no fundo a gente fica pensando e pensando e pensando, e remoendo, e doendo.

E não é nem que vive só por viver, nada disso. É mais, mas também é menos. É menos que viver muito, mas mais que sobreviver. É complicado, só isso que eu sei.

Eu tenho ficado boa em pensar sobre a vida, melhor ainda do que eu era. Pensar sobre a distância. Sobre as despedidas e sobre a dor dela. Despedida dói, já te disse isso. Principalmente quando você se despede mas sabe tudo: pra onde ligar, pra indo ir.

É muito mais fácil escrever pra te contar essas coisas, Ale, do que pra outros tantos.

Acho que uma hora rola um basta e eu volto aqui pra falar de rali, de corrida, de cinema. Da vida, até, mas não assim. Porque tem vida que a gente fala e gosta, e tem vida que a gente fala e dói. E agora aina dói um pouquinho. Mas passa, acho. Só não tenho muita certeza.

Ufa.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Com a palavra, Ulysses Bertholdo

(Fim de semana passado teve o Rally de Erechim, o maior rally do Brasil. Maior no sentido de amor, de público, no sentido figurado mais denotativo que existe. Como todo ano, falei, falei, falei e não fui. Mas estava lá de coração. E nada me emociona mais do que ver Erechim sendo reconhecida por aí. Hoje recebi um e-mail e foi a coisa mais linda, as palavras mais lindas que alguém podia dizer sobre essa prova sensacional. Deixo vocês com as palavras do senhor Ulysses Bertholdo)


"Senhores,

fiquei pensando sobre o que falar de Erechim!
O melhor Rally da America?
Comparando-se aí com as provas de Cross Country que acontecem aqui no Brasil?
A melhor organização?
Estradas para a prática do esporte como em nenhum outro local?
Uma segurança onde nem se percebe que precisamos disso?
Um público nas SSs jamais visto em qualquer outra etapa de rally no Brasil?
Uma paixão pelo rally somente comparável com os Argentinos nas provas do WRC?
Onde mais poderíamos realizar uma prova de WRC no Brasil senão em Erechim?

Com certeza vai ter gente para falar que não vai ter hotel para todo mundo. Pode ser..... mas na Europa as etapasdo WRC tem até 400 km de deslocamentos antes de acontecer as SSs propriamente ditas. Que durmam em Porto Alegre! Lá vai ter hotel para todos, mas as estradas, a organização, o público apaixonado...... isso somente nas cidades da região de Erechim!

Falar em WRC entre São Paulo e Rio é a mesma coisa que dizer em fazer vatapá e acarajé no Pantanal, ou que se dança frevo no Rio Grande do Sul ou que a melhor pizza é feita no Acre [caso ele existisse n.b.] ou que o melhor carnaval acontece mesmo em Santa Catarina ou no Amazonas!

Percam mais alguns minutos e leiam abaixo o que os Argentinos falam sobre o Erechim.

E para Erechim, a única coisa que podemos dizer é: Parabéns ! nós, amantes do rally, só podemos agradecer por fazerem o melhor Rally da América !

Abraços,

Ulysses Bertholdo"

Aqui está a tal matéria dos argentinos, mencionada pelo Ulysses no texto:


Como eu sempre digo no twitter e/ou no Facebook e/ou no Instagram e/ou no Pinterest: <3

sábado, 10 de março de 2012

Paradoxo

Eu não sou contra filmes cheios de explosões e efeitos especiais. Pelo contrário, acho que cinema, além da arte, é entretenimento, e deve ser tratado como tal. E explosões e efeitos especiais fazem parte disso.

Mas, como em tudo na vida, existem limites. E esse limite se chama MICHAEL BAY.

Durante aquele tal PRÊMIO DA ACADEMIA - esse engodo maior do mundo -, a antítese de MICHAEL BAY venceu. Se existe um filme que é o avesso de Transformers, esse filme é O ARTISTA.

Mudo, preto e branco, sem efeitos especiais. A mais pura essência do cinema arte, o cinema moleque, o cinema toco y me voy.

Um filme que também podia ser chamado de CHUPA, MICHAEL BAY.


Inexistência de um enredo de verdade, uma gostosona e uma interpretação medíocre do ator principal _que é bom, falo sério, mas até isso Michael Bay conseguiu estragar. Praticamente um filme trash, mas sem a parte trash que caracteriza um filme trash _Obrigada, Spielberg! Ou seja: qual o sentido de Transformers?



Eu casava com Dujardin e ainda levava adotava o Uggie. Mesmo os dois não falando nada.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Adele e o resto do mundo

A Adele fica de fossa. Ou entra numa fossa, algo assim. Enfim. O que importa é que Adele tá triste por causa de homem.

Eu também fico triste por causa de homem. Toda mulher fica tristes por causa de homem. Toda mulher odeia levar um pé na bunda. Ou não precisa ser um pé na bunda. Mas toda mulher chora, se descabela, come feito uma condenada - menos eu, que entro em dieta bem nessa época e acabo ficando mais chata e mal-humorada.

Adele também deve se descabelar, chorar, todas essas coisas. E aí ela resolve pegar aquela voz do caralho e fazer um bando de música de fossa, ficar rica, linda e maravilhosa, show pelo mundo inteiro, ganhar todos os Grammy do mundo.

E nós? Nós choramos e nos descabelamos enquanto ouvimos Adele.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Para viver com poesia

"Essas duas tresloucadas, a Saudade e a Esperança, vivem ambas na casa do Presente, quando deviam estar, é lógico, uma na casa do Passado e a outra na casa do Futuro. Quanto ao presente - ah! - esse nunca está em casa."

(um pouco de Mario Quintana para deixar a saudade mais poética)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Os espasmos nos olhos

Oi, Ale,

é estranho escrever uma carta para você, uma pessoa que eu nem sequer conheci de verdade - quer dizer, uma verdade relativa, porque tudo é relativo. Veja bem, eu te conheci virtualmente, a gente trocou algumas palavras, acompanhava um ao outro nessa incrível rede que é o twitter. Incrível porque, assim como eu me apeguei à sua luta, vi muitas pessoas conhecendo muitas outras, formando laços de verdade, coisa bem bonita.

Eu te escrevo porque precisava de um motivo para falar sobre o nada e o tudo, e decidi que a gente sempre quer contas as coisas para as pessoas queridas. E você é querido, muito mais do que você imagina, acho.

Eu queria te contar sobre saudade, separações, amizades, essa coisa toda. Ontem fez dois meses da sua morte, e foi ela que me fez tomar algumas decisões na minha vida - porque a gente não sabe quanto tempo o tempo tem. Eu tenho esse minuto agora, esse segundo, mas não tenho o segundo seguinte. E é por isso que a gente precisa viver de verdade, para poder aproveitar cada segundo que a gente tem. A gente tem muita mania de deixar o tempo passar, achar que ele vai curar tudo. Mas às vezes ele não cura do jeito que a gente quer, e o que fica? Fica a dor por a gente ter deixado tudo nas mãos dele.

"A única coisa inevitável é a morte". Sei lá se ouvi isso em algum lugar ou se minha cabeça que criou essa frase, mas tenho pensado muito nela. A gente fica com aquela coisa depois da morte. Putz, por que eu não fiz isso com fulano? Por que eu não falei aquilo com beltrano? Por que eu não te conheci, Ale? Mas enquanto a gente ainda tem tempo, a gente pode. Pode tudo. Mas, principalmente, a gente pode não se afastar dos outros.

Eu não entendo muito essa necessidade que a gente tem de vez em quando de se afastar. O que resolve? É uma espécie de morte voluntária. Bam, você matou a pessoa na sua vida. Só que não. A pessoa continua viva, e aí eu tento entender por que a gente quer tanto que ela não esteja ao nosso lado.

Nesses dois meses eu tentei entender isso. E ainda tô tentando, mas não consigo. Mas também consigo.

Dói, sabe? Perder pessoas que continuam vivas acho que dói mais do que as que estão mortas. Quando elas tão mortas, não tem mais jeito. Mas vivas? Fica aquele gosto de fracasso, uma dor diferente, de saber e não saber. Às vezes a gente lida bem com isso, mas eu não sei jogar esse jogo, e sei menos ainda com o passar dos anos.

Parece que tudo era mais fugaz quando eu era criança. Eu conhecia o amiguinho na praia, na praça, na chuva, na fazenda e ele já virava meu melhor amigo do dia. Aí a gente ia embora e acabou.

Mas agora a despedida dos amigos dói mais. Às vezes se mescla com a infância já findada, como o amigo que foi morar na Itália e volta sei lá quando. Doeu ele ir embora. Mas teve também aquela que sumiu sem dizer nada e dava as caras de vez em quando, e agora a gente nem sabe mais quando vai se ver. Sempre fica a pergunta: por que esse sumiço? Por que esse abandono repentino? A gente devia se formar juntas e sei lá mais o quê. Mas não foi isso que aconteceu.

E teve o outro que rolou e não rolou, e aí ficou aquele clima estranho e a gente decidiu deixar o tempo passar. Mas como se faz isso? Esse tempo tem prazo de validade? Ou um dia a gente vai se encontrar nas ruas virtuais e ficar de bate-papo, e, bam, voltou a ter amizade?

Mas o que acontece nesse tempo? O que aconteceu no tempo em que eu e o amigo que foi pra Itália não nos falamos por absolutamente nenhum motivo? E o que vai acontecer nesse tempo em que eu e o outro amigo não trocarmos figurinhas?

É tudo muito indefinido, Ale. Você tava se recuperando, a gente botava fé. Eu tava até pensando em ir te visitar quando tudo se acalmasse, tinha um presente especial e tal. Mas o tempo não deixou. E o tempo não vai deixar uma série de coisas, porque ele acaba. É natural.

E se o tempo não tivesse deixado? E se o tempo não deixar? É isso que passa pela minha cabeça, Ale. É ter medo de ficar com um monte de se. E a gente fica, porque a vida é feita de escolhas e, invariavelmente, a gente vai se perguntar se o outro caminho era mais bacana. Mas tem se que dói mais, tem se que a gente sabe que devia ter sido diferente, devia ter dito mais flores, mais pássaros cantando e blá.

É isso que eu queria escrever pra você, Ale. Esse monte de se que dói na alma e que, na verdade, nunca chegou a tempo. Porque, como se sabe, o se sempre chega atrasado.

Com amor,

Amanda

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Uma revolta

Estou revoltada. Revoltadíssima, para falar a verdade.

É uma revolta tão grande quanto aquela que tenho do mundo em geral.

Estou revoltada com a Academia. Sim, aquela do Oscar.

Não que o Oscar seja o líder supremo de todas as coisas - esse título pertence para sempre ao Loeb. A Academia, na verdade, faz escolhas bem questionáveis, como a vez em que eles deram um Oscar para A VILA. GENTE! Filme horrível e, ok, a fotografia era bonita, MAS SÓ! E GANHOU UM OSCAR!

Mas a gente não questiona quando Meryl Streep é indicada, ou o Geoge Clooney, ou o John Williams. Enfim...

Mas aí eles soltam os indicados a Melhor Animação e TINTIN NÃO ESTÁ LÁ! Revoltei.

E revoltei ainda mais depois que vi o bendito. Vem cá, Academia. Vamos conversar ali no cantinho. Quero que você me responda com toda sinceridade: como Tintin não foi indicado? Você percebe onde está o erro, né? Não vou nem falar que é um filme de Steven Spielberg, com uma pitada de Peter Jackson e John Williams.

Como dizem por aí, #Fail. #Epicfail.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A equação inversa das adaptações

Eu não tenho nada contra adaptações de livros para o cinema.

ABRE PARÊNTESIS
Ok, talvez isso seja só meia verdade. Ou 1/3 de verdade. Porque eu sou chata pra caramba quando se trata de roteiro adaptado, e minha chatice é dividida em duas categorias:

#1 - livros que eu li, o que significa que vou ficar o tempo todo comentando sobre como tal fato não era assim no livro e blá, ou ficarei roxa ao tentar guardar tais observações pra mim. O que importa é que nunca ficarei exatamente feliz com isso, com exceção de O Senhor dos Anéis, cujo filme conseguiu diminuir a chatice de Frodo em 3434%;

#2 - livros que eu não li, e aí a chatice acontece porque não são dois ou três filmes com roteiro adaptado. São dezenas deles que surgem a cada temporada, uma coisa incrível. Parece que já nem existe mais roteiro original, é tudo baseado em livro. Chega um momento em que isso irrita. Tirando, claro, os livros que já são escritos como um roteiro de cinema, com o propósito de ir parar nas telas o mais rápido possível.
FECHA PARÊNTESIS

Então eu tenho muita coisa contra adaptações de livro, mas ignoro e vou lá assistir aos filmes.

Aí você descobre que um filme como A Ilha do Medo, por exemplo, foi baseado em um livro. E já que você achou o filme bacana, com direção boa e atores legais, foi lá ver qual era a do livro. A decepção: o livro é ruim, tão ruim que você não conseguiu ler mais que algumas ṕáginas e desistiu de comprar.

Foi a descoberta de uma nova modalidade. Livros que você não sabia da existência e que foram alçados a possíveis bestsellers porque inspiraram um filme dirigido por, sei lá, Spielberg. Só que os livros, a despeito da qualidade dos filmes, não são lá muito bons.

A situação se inverte: se antes a gente lia os livros e ficava na dúvida se ia gostar do filme (#HarryPotter), agora nós achamos o filme bacana e ficamos com medo de ler o livro.

Eu e Reserva: um caso de amor

Assim como na música de Ângela Rô Rô, meu grande amor apareceu assim, bem de repente. Sem nome ou sobrenome, sem sentir o que não sente.

Foi em uma tarde de um dia de semana. Assistimos a Medianeras, que o povo fala que é filme de gente cult, porque todo filme fora do circuito de Hollywood é cult, mas eu e meu grande amor não nos importamos e gostamos de ver filmes cult, especialmente os franceses, já o meu grande amor foi adotado pelo povo que fala "quero dar pra você" de um jeito bonito.

Assim, sem hora marcada nem nada, meu grande amor me conquistou - e como se ainda duvidasse do amor que surgia, meu grande amor me ganhou definitivamente pelo estômago, ali na Pain de France.

Eu ainda me recuperava do grande choque que fora a morte de um outro grande amor, que - me desculpe, Ângela - durou muito menos que o tempo que mereceu. Foi embora assim, nem tão de repente, mas dolorido. Era um amor meio alternativo, e às vezes ficávamos noites adentro acordados. Mas acabou.

E veio ele e seus filmes franceses, seus quiches. De dia de semana ele assume um humor que me lembra excursão de velhinhas pela Europa; aos sábados e domingos ele quer festa, agitação, uma coisa mais moderninha.

Um grande amor que chegou assim, como as canções, como as paixões, as palavras.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

sobre as nossas cidades

Quando fui pra Nova Iorque, no ano passado (enquanto o Pitacos estava em coma), sofri de um grande mal - que, no final, encarei como um grande bem: estudei o lugar minuciosamente e fui pra lá conhecendo praticamente cada esquina de Manhattan. Sabia tudo o que havia pra fazer ou deixar de fazer lá, já tinha ficado razoavelmente familiarizada com a linha de metrô e saí do Brasil já com uma ideia do que queria tirar de Nova Iorque.

Porque - deixe-me dar uma de filósofa nesse momento - cada cidade é diferente de acordo com a visão das pessoas. Se, por exemplo, eu quiser apresentar São Paulo para uma pessoa, estarei mostrando apenas a cidade que eu enxergo, o que pode agradar ou não o outro. É como tudo na vida: a gente tem o nosso ponto de vista das coisas. A São Paulo que eu amo não é, necessariamente, a que a minha mãe ama - e não, não é, mesmo.

E isso funciona com todos os lugares. Do mundo. A minha Rio de Janeiro é diferente da Rio de Janeiro da minha família, até dos meus amigos de lá. Assim como a minha Curitiba. E a minha Goiânia - que terá eternamente cheiro de poeira e barulho de carros de rali.

É por isso que eu evito ficar pegando sugestões antes de viajar. Do que adianta a pessoa querer que você compre um passe de dois dias pra visitar as principais atrações de Nova Iorque quando tudo o que você quer é andar pela cidade, observando pessoas e procurando coisas encantadoras para admirar em vez de ficar correndo e um lado pro outro pra conseguir ir no Met, no Financial District E no Empire State no mesmo dia?

Cada um sabe a cidade que quer conhecer. No meu caso, eu queria ser a pessoa que fica passeando sem rumo, meio perdida, ouvindo, vendo, sentindo cheiros - se eu tivesse um olfato apurado, coisa que não tenho. Andei pelo Central Park, vi o estudante de Julliard tocando violino, passei pelo prédio de Friends e me joguei no Village, entrei em todas as Sephora de Manhattan, peguei a balsa para Staten Island pra ver a Estátua da Liberdade, fui pra Columbia, tirei foto em frente à Tiffanys para homenagear Audrey Hepburn, fui na ONU e na parada de St. Patrick. Acima de tudo, conheci a Nova Iorque que EU queria conhecer, não a que OS OUTROS queriam que eu conhecesse.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Uma crônica sobre presunto

Eu tinha uma amiga que uma vez chegou com uma teoria sobre os porcos. Eu não lembro do blábláblá todo, mas tinha alguma coisa a ver com Atlântida e porcos serem mutações genéticas de seres humanos. Ou seres humanos serem mutações genéticas de porcos. Algo assim.

Essa amiga tinha um amigo que comprovou "cientificamente" o fato (sim, a história fica melhor). Ele "descobriu" que carne humana e carne de porco, vejam só!, têm o mesmo sabor! Óbvio que poderíamos passar horas formulando perguntas sobre isso, por exemplo: como ele concluiu isso? Ele é uma versão brasileira do Sweeney Todd? Amanda, por que você convive com essas pessoas?

Mas vamos focar nos porcos.

O que importa é que, depois de toda essa magnífica história, essa amiga terminou concluindo que presunto tinha um gosto ruim. Fim da história.

Passaram-se anos e anos e anos. Até que, alguns meses atrás, essa pessoa que vos escreve estava inocentemente cozinhando alguma coisa, fazendo um sanduíche, enfim, derramando seu inacreditável talento culinário na cozinha. A receita envolvia presunto. E eu, mais inocentemente ainda, peguei um fatia e pus na boca (#Nigellafeelings). Eis que uma sirene começa a tocar no meu cérebro: "presunto tem gosto ruim, presunto tem gosto ruim, presunto tem gosto ruim". E assim foi até que eu cuspisse toda a carne e ficasse ali, parada, pensando que, pela primeira vez, eu havia realmente sentido o gosto do presunto e, caramba!, aquilo era muito ruim.

E essa volta toda foi só pra falar que, desde então, quando eu abro a geladeira para fazer um sanduíche, eu pego o queijo e deixo o presunto de lado.

(Aqui está o único texto que achei sobre a tal teoria, um oferecimento do Deus Google)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Resolução

Aí, como que por poder divino, a amiga cancela o almoço. Que bom. Porque, muitas vezes, a gente precisa resolver os nossos problemas antes de tentar ajudar os outros.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Colo

A amiga vem chamar no msn e pede pra sair amanhã, sábado, porque o namorado acabou com ela e ela está inconsolável. O dia está corrido, tem voo em Guarulhos pra pegar, mas a gente dá um jeitinho aqui, ali, acolá e, pronto!, arruma um tempinho pra almoçar com a amiga.

A amiga também faria isso por mim, caso a gente pedisse. Mas pedir ajuda é uma arte.

Eu não sei pedir ajuda. Nunca soube. Na oitava série, quando o namorado brigou comigo na viagem de formatura, saí pra chorar em um cantinho e as amigas ficaram desesperadas, e o namorado também, tanto que depois jurou me amar pelo resto da vida até o final do ano.

Também fui chorar escondida quando, no ensino médio, o ídolo morreu depois de um acidente em um rali. Ou quando eu gostava demais. Porque gostar demais dói muito, e a gente chora. Mas é pior quando a gente chora sozinha, escondida num cantinho. E eu sou assim.

Eu sou escolada em outra arte: a de sorrir, não importa o que aconteça. A de fingir que está tudo bem, obrigada, ele não estraçalhou meu coração, até faço piada com isso, não tá vendo? É o sorriso do Playmobil que, faça chuva, faça sol, está lá estampado no rosto.

E aí a amiga vem pedir ajuda e a gente vai lá oferecer o ombro, mesmo que esteja precisando de colo, de abraço, de carinho. Porque a gente não sabe pedir isso, a gente chora baixinho pra ninguém ouvir, sofre baixinho, dói baixinho.

E quando a gente não consegue sofrer baixinho a gente sente vergonha. Como quando abraçou o Zé no velório do Vicente e chorou todo o choro do mundo, até sentir a dor diminuir um pouco. Mas a gente não sabe chorar no colo dos outros, então a gente fica envergonhada porque o fez.

Mas algum dia a gente aprende que pedir colo de vez em quando não faz mal a ninguém.