quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O que uma fila com Mia Couto me ensinou

É engraçado como, às vezes, algumas coisas parecem fazer um sentido imenso, mesmo quando não fazem. Tipo ontem.

Peso absurdo nos ombros, pé ainda lesionado, aula de inglês rolando e eu lá na Cia. das Letras, no Conjunto Nacional, esperando por Mia Couto. Nem era a palestra, cheguei atrasada e tal. Era a tal sessão de autógrafos, mesmo, esse momento tão inútil em que esticamos um livro para um autor, ele assina, sorri, te devolve o livro pra você e fim. Assim, desprovido de emoção - pelo menos de uma das partes.

Embora eu não seja de pedir assinatura quando o escritor em questão não diz nada para mim. Tem lá o livro de Samantha Power, "with hope", também assinado por Carolina Larriera, viúva de Sergio Vieira de Melo. E tem o do Pedro Bandeira, para a "querida Amanda", e nesse querida vive uma intensa discussão sobre por que eu preciso acreditar no mundo - estou tentando, seu Pedro, estou tentando.

Mas voltemos ao Mia Couto, já que a história com ele também é longa.

"O último voo do Flamingo" - e voo em Moçambique já não tinha acento muito antes do novo código e blá -  fez parte da lista de livros da Cásper Líbero em 2007, ano em que, vejam só vocês!, também prestei vestibular. Não passei e roguei todas as pragas possíveis ao jornalista, mal aê, seu Cásper, não quis ofender.  Mas a lista de livros da Cásper é de tirar o chapéu. Livros e filmes, aliás. Coisa de quem quer uma análise mais aprofundada da arte de escrever, não só enfiar os clássicos guela abaixo. Naquele ano, além de Mia Couto, Manoel de Barros também fazia parte da lista. E Carandiru, se não me engano. Talvez Drummond, Machado de Assis, Guimarães Rosa e Chico Buarque. 

A Cásper me ensinou a ter mais amor pela língua portuguesa. Depois disso, li mais Chico, li Lygia, me apaixonei perdidamente por Quintana e Manoel de Barros. Porque, que me desculpem os amantes de José de Alencar, mas se dependesse de Iracema, nada disso teria acontecido. 

(Claro, muito do mérito também via à professora de literatura do cursinho, que me ensinou muito de preciosismo e comparava Manoel sempre a uma bala de coco.)

Então parece que, apesar da tragédia que foi não passar no vestibular da Cásper, sonho de adolescência, eu aprendi muito com toda essa experiência. E um dos professores que me ajudou a passar por essa jornada não foi outro que não Mia Couto. Talvez não pessoalmente, mas por meio de suas sábias e preciosas palavras.

PS: é engraçado como a gente absorve algumas coisas. Hoje, vejo um pouco de cada um dos autores que tanto admiro no jeito de escrever. E ainda tem gente que alega não gostar de ler.  Para eles, cito minha professora de literatura do Ensino Médio: não existe essa de não gostar de ler. Existe é que as pessoas ainda não encontraram o livro da sua vida. Beijos, Edna!

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