sexta-feira, 19 de junho de 2009

Para mudar a resposta do mundo

A edição do jornal jazia na mesa de centro quando atravessei a sala para me deitar. Mecanicamente, meus olhos percorreram as notícias da primeira página e pararam no artigo de Raul Juste Lores.

Apesar do "tempo real" da internet, acompanhei as eleições no Irã pelas palavras de Raul. Mais do que o evento no país islâmico, sentia que acompanhava o próprio Raul em sua jornada por Teerã.

Pois quando vi a capa, corri para ler a matéria que assinava. Surpreendi-me quando li o "Da Redação" no crédito. No texto seguinte, Sérgio Dávila. E ali, ao lado da foto de Barack Obama, estava Raul.

O texto, um relato íntimo sobre seu último dia em Teerão _o governo iraniano não havia concedido a renovação do visto para a imprensa estrangeira.

Começava assim: "A Primavera de Teerã está nas ruas, mas não posso usar nem celular nem internet em minhas últimas oito horas na cidade. Está tudo bloqueado." E narrava o trânsito, a conversa no hotel, o temor pelo futuro, a visita ao museu. E fechava: "Muita coisa mudou. Amigos ligam ao telefone do hotel para se despedir. Contam que continuarão a me enviar vídeos e fotos das manifestações e da repressão 'para que a Primavera de Teerã não seja esquecida'.

Chego a Dubai. Leio que o governo iraniano reduziu a banda larga para impedir que essas imagens circulem no exterior. O povo continua na rua. O que será deles?"

Peguei a página decidida a guardar o depoimento de Raul, assim como faço com textos que me tocam de alguma maneira. Mas não queria simplesmente deixá-lo esquecido no fundo de uma gaveta.

Foi aí que me lembrei do livro que estou lendo, "O Homem que queria salvar o mundo", de Samantha Power, e resolvi que não existia lugar melhor para colocar o relato. Assim, sempre que eu me perguntar "o que será deles?", lembrarei que um homem certamente fez essa mesma pergunta, e dedicou a sua vida a tentar mudar a resposta. E lembrarei que todos nós também podemos tentar mudá-la.

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