terça-feira, 20 de maio de 2008

São Google

No passado 1: por várias vezes Tognolli, professor da faculdade, falou da história do engenheiro Vasconcellos, Abin, Bagdá, sempre culminando na gloriosa interpretação de Eduardo Suplicy constatando que realmente a editora do Bispo não pertencia ao Macedo.

No passado 2: sendo a vida cheia de "se", se eu e Aline não tivéssemos entrado na Fnac naquele dia, eu não teria comprado o CD da Fernanda Takai e ela - a Aline, não a Fernanda - não saberia que eu adoro essa cantora.

Primeira cena: descíamos a Consoloção quando nos deparamos com aquilo. Ali, no meio da calçada, um bicho enorme, gordo, semelhante a um... não, não podia ser. Um porco? Estamos em São Paulo, pelo amor de Deus!

Nos aproximamos um pouco. "É um porco", constatamos. Cheguei perto da mulher que jogava tangerina para ele e limpava a sujeira do chão - por sujeira entenda o cocô do bicho - e, fingindo estar em dúvida, perguntei:

- É um porco? - é claro que era um porco, porra! Tava na cara!
- É. - o mau-humor pairava em cima da moça.
- Pode fazer carinho?
- Pode.

Encostei minha mãe na pela do animal e comecei a acariciá-la. Tive minhas dúvidas se ele sentia. Pele e pêlo muito grossos, casco - é casco que se diz? - limpo, todo rosinha.

Perguntei da onde surgiu a idéia de ter um suíno. Ela foi curta e grossa:

- Eu já tive um monte de cachorro, então decidi ter um porco.

Claro! E eu, que já tive cachorro pra caramba e cuido de oito gatos, agora terei uma lhama, um camelo, um ornitorrinco - se alguém souber onde eu compro, me avise.

Ainda perguntei como ela cuidava do bicho. "É igual a um cachorro". A semelhança é óbvia.

Segunda cena: entramos na "loja do Bispo" pouco depois do encontro com o suíno. O local é indescritível (eu sugiro que vocês dêem uma passada lá: é na rua Dr. Melo Alves, 278). Ali também funciona a editora supracitada e uma galeria.

Andamos um monte de vezes pelo pequeno espaço. Cada vez, achávamos uma coisa mais diferente, mais legal, mais interessante. Foi quando paramos em uma mesa que Aline perguntou: "você não vai lá falar com ela, não?"

Perguntei a quem ela se referia. "A Fernanda Takai!"

Virei-me e lá estava ela, conversando com Pinky Wainer. Uau! Era mesmo a Fernanda Takai, a dona da voz que me encanta desde que eu era criança!

Tinha na loja um globo do Elvis Preley em estilo de caixinha de música. Coloquei a primeira e a vendedora me desafiou a adivinhar que música era. Ouvi e falei: Heartbreak hotel. Certo.

Ela então me entregou outro globo e disse: "esse a gente não faz a mínima idéia de que música é. Será que você consegue descobrir?"

Coloquei o objeto próximo à orelha. Não consegui indentificar o que era. E foi aí que Fernanda entrou.

"Que música? Será que eu consigo descobrir? Olha que eu já falei que o Silvio Santos tinha que me colocar naquele programa 'Qual é a música?'!"

Passei para ela. Dez segundos. "Don't be cruel". Como?

"É! Olha... tã tã tã...tã tã tã..."

Rimos e eu falei: "quantas notas, Fernanda? 'Uma!'"

Na hora em que ela ia dizer tchau pra gente - já havia comprado o que precisava - comentei que passaria a tarde ali, com o globo em mãos para tentar entender. E aí aconteceu algo quase surreal.

Ela botou a bolsa no chão e abriu-a. "Acho que tenho a música no meu Ipod". Tirou o aparelho. "Só não repara que ele é um dos primeiros". Começou a mexer no aparelho, eu ainda segurando o globo, achou o que procurava. "Olha, pega o meu fone. Pode deixar qué é limpinho." Coloquei um lado no ouvido, ela colocou o outro. Então ia me dando as coordenadas. "Tá vendo... é essa parte", e lá ia ela com os tã tã tã.

Dei novamente corda e ouvi. Estava mais lenta e cortada, mas definitivamente era "Don't be Cruel".

Mais umas risadas e ela se despediu dizendo: "se vocês encontrarem o Silvio Santos, falem de mim para ele!"

Lá na loja tinham umas fitinhas do São Google, imitando aquelas do Senhor do Bonfim.

Sinto muito, São Google. Tenho certeza de que quem me deu sorte dessa vez foi o Bispo.

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