quarta-feira, 14 de maio de 2008

Quanto vale um artista famoso?

All Star nos pés, calça jeans no corpo. Assim eu jogava bola com alguns integrantes do Nação Zumbi, Falamansa e Aditive. Não era nenhum jogão válido pela Copa do Mundo. Na real, não era nem um jogo; tocávamos bola um para o outro, enquanto eles se aqueciam para entrar em campo. Que também não era nenhum estádio da Copa. De trilha sonora, os gritos do público: "Que mancada!" "Te odeio!"

A história toda não começa aí. Foi na terça a noite que a Tati, colega da faculdade, ligou para o meu celular. Mais exatamente, dez e meia. "Vamos no Rockgol amanhã?" Sendo uma telespectadora assídua da MTV, logo perguntei: " Do que se trata?" Ela explicou-me e eu fiquei em cima do muro. Que diabos eu ia fazer em um lugar em que eu não conhecia metade dos cantores? Aliás, metade é apelido! Para se ter uma idéia do meu ótimo repertório, Jurava que "Razões e emoções" e "Pela última vez" (NX Zero, caso você saiba tanto quanto eu) eram a mesma música. Ainda defendo que, se você colocar uma em cima da outra, elas casam certinho. Mas isso é outra história.

Importa que eu aceitei. O tal do Hóspede colocaria nosso nome na lista.

Já no ginásio do Ibirapuera - já tinha passado uma manhã inteira, faculdade, etc. - todo mundo nos jogava de lá para cá. Ou seja, ninguém sabia para onde deveríamos ir. A única solução? Liga pro Hóspede, claro! "Dá quinze minutos e eu resolvo".

Resolvido, entramos nos bastidores do programa. (Aliás, antes que eu me esqueça: Tati também estava chutando a bola coma gente.)

Foi em certo momento que decidi chegar perto do público que se amontoava por ali. Decidi, não. Estava de papo com alguém quando me chamaram. Ainda olhei para os lados, crente que o tal do Di - aquele que canta "espero que saibaaaaaaaaa" - estava por ali. Nada. Eles estavam me chamando, mesmo.

Foi chegar ali perto e me sentir no inferno. Começaram os gritos, celulares e cadernos esticados em minha direção. Serei eu uma celebridade? Correria direto para a banca, pronta para achar minha foto na capa da Caras. Não. Eles queriam fotos, autógrafos, o fio do cabelo da galera. "Pede autógrafo pro Danillo?" Quem? Perguntava quem era o indíviduo com uma certa vergonha. Eu estava ali, acesso fácil a toda aquele povo e não sabia porra nenhuma de ninguém. Tá legal. Eu sabia que Supla cantava charada brasileiro e Vinny mandava mexer a cadeira. Mas aquele pessoal sabia de cor as músicas de Fresno, NX Zero, For Fun e o escambau! E se você for fã da primeira banda citada, ficará chocado com as próximas palavras: eu fui lá abraçar o Tavares porque ele é um puta goleiro. Ainda troquei umas palavrinhas sobre futebol - ele torce para o Inter -, tentando convencê-lo que ele era quase um Rogério Ceni. Nem sei se canta, toca guitarra, bateria ou triângulo. Mas na hora de defender o gol, não tem pra ninguém.

E enquanto eu estava lá, celebridade momentânea, imaginava o que levava aquele povo a fazer isso. Um oferecia-me o bilhete único com cem reais de crédito em troca da minha credencial. Outro - ou seria o mesmo? - me entregou o celular para que eu tirasse fotos de Di, Fi, Ge, Ca, Ma, Bu e outras sílabas!

Duas coisas me fizeram responder àquelas pessoas de maneira brusca: primeiro, os gritos de eu te amo. Logo falei: "você nem me conhece, como sabe que me ama?" Depois, a menina pedindo o meu msn. "Pra quê?" "Ah, sei lá", foi a resposta que eu ouvi.

Quando já havia corrido atrás de todos aqueles artistas que mal conheço - não sem antes ter cruzado com Supla, uniforme na mão e vestindo um paletó, dado um abraço e perguntado como foi o jogo. "Ganhamos, claro" - cheguei à conclusão que não dava mais. Alguém pode até me chamar de egoísta, mas poxa! Tem limite, né?! Eu não estava lá para ficar atrás de um cantorzinho metido que faz meia dúzia de meninas desmaiar. Além do mais, ficava pensando naquele pessoal mostrando o pedaço de papel com uma assinatura ilegível e falando "Olha, é o autógrafo do Di!" Para mim, era completamente sem sentido.

Então, enquanto jogava bola com Nação Zumbi, Falamansa e Aditive,tinha certeza de que os gritos eram pra mim. Cheguei a comentar isso com o Nasi. "Como vocês agüentam?" "Você se acostuma, né?"

Não sei, Nasi.

(atualizado 16/05, 19:29 - só para vocês verem como estou por dentro das bandas hardcore, escrevi que uma das músicas do NX Zero é "Só penso em você", quando seria "Pela última vez". Sem comentários essa...)

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