quarta-feira, 21 de maio de 2008

Abaixe a cabeça e aceite

Alguns acontecimentos dos últimos dias me fizeram pensar em quão submissas são as pessoas. Se portam como seres inferiores, seres que não podem fazer nada e, desse modo, realmente não tentam fazer nada. O que é cômodo, na verdade. Afinal, é fácil você alegar que não vai conseguir mudar tal coisa e simplesmente sentar no seu sofá.

Quadro #1:
O primeiro evento deu-se ontem, no blog do Seixas (e quem quiser ler, cá está). A história é sobre uma propaganda da Chevrolet publicada na revista Auto Esporte. O cara - Humberto - questionava ao Conar a veracidade do anúncio, que colocava o Astra como primeiro e segundo lugar em uma prova da Stock. Acontece que, na categoria, só a bolha "representa" o carro. Ou seja: de Astra, ali, só a carceragem. Diante disso, Humberto alegava que tal propaganda era enganosa.

Nos comentários, uma série de pessoas criticando a atitude do cara, alegando que deveriam deixar a empresa fazer o anunciozinho dela, já que investe grana na categoria.

Quadro #2:
Era de manhã, umas dez horas, suponho. Estava na fila das Lojas Americanas. Em mãos, o DVD de "Em Busca da Terra do Nunca", filme que esperava para comprar a séculos e que custava treze reais. Umas quatro pessoas na minha frente. Seis caixas, dois abertos.

Olhei para trás e vi que cada vez mais gente ia chegando. A fila ia crescendo, e crescendo, e os dois caixas abertos, e a lerdeza das atendentes.

Quando chegou minha vez, perguntei onde poderia fazer uma reclamação. Ela quis saber por quê. Em alto e bom som respondi que achava um absurdo uma fila imensa e dois caixas abertos, que era um desrespeito com as pessoas que estavam ali e que, aliás, era prejuízo até para a loja, já que tinha gente que desistia da compra.

Com um sorrisinho que quase me fez dar um murro em sua cara, ela me indicou o balcão de atendimento.

DVD já guardado, fui falar com a mulher. Tudo o que havia falado para a caixa repeti para ela. Alegou que foi por isso que abriram mais um caixa. Retruquei que só fora aberto bem depois, quando a fila já estava bem grande, e que apenas mais um não dava vazão. Ainda adicionei que já ouvira gente falando que ia desistir - o que é verdade - e gente que já havia desistido - o que não era bem verdade, embora não fosse mentira. Ela então me falou que "iam estar contratando" mais pessoas para trabalhar naquele horário, já que muitas faculdade estavam em intervalo. Coisas que, creio eu, a mulher só me falou para calar a minha boca. Que seja, passarei lá de novo para checar.

Quadro #3:
Foi um pouco mais cedo, quando estávamos em aula. A discussão era sobre direitos do consumidor. Surgiu o subtema "propaganda enganosa". O que me remeteu à história de Humberto.

E muita gente falou a mesma coisa que os caras dos comentários do Seixas: pra que vai reclamar? Deixa os caras fazerem as propagandas deles!


Então é assim? Vamos ser coniventes com as coisas erradas porque, afinal, os caras têm grana? Deixem o endinheirado pisar nas nossas cabeças! Abaixe a cabeça e aceite! Leia o seu jornal, a sua revista, e acredite que ele tem a razão absoluta. Não questione, deixa pra lá. Do que vale isso? Do que vale clamar por respeito? Inútil, né?

Se resignar é mais fácil que questionar, diria a minha mãe.

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