sábado, 2 de maio de 2009

1º de Maio de 2005

O 1º de Maio do qual me lembro é outro.

Daquele de 1994, pouco me vem à mente. Conta minha mãe que aprendi a falar Senna com a mesma facilidade com que comecei a dizer mama. Segundo ela, eu assistia a todas as corridas. Não lembro, mas me recordo vagamente de alguns trechos da corrida em Ímola _como o movimento da cabeça que, naquela época, para mim, era um claro sinal de que Senna estava vivo. Embora eu não tenha certeza se sabia qual era o significado da palavra morte.

Mas o 1º de Maio de 1994 não é mais importante do que o 1º de Maio de 2005 _para mim.

Estávamos almoçando no shopping, eu, minha mãe e minha irmã, aqueles velhos almoços que já são quase jantas.

No telão, o vigésimo programa que fazia uma retrospeciva da vida de Senna.

Foi quando o celular de minha mãe tocou. Da conversa entre ela e seu pai _meu avô_ lembro-me nitidamente de uma frase: "meu avô está bem?"

Na hora tive a sensação de que já sabia o que viria em depois.

Quando ela desligou o aparelho, nos olhou e disse: "sua bisavó morreu."

Apesar de já ter mais idade, a morte da minha bisavó era algo completamente inesperado. Tinha seus problemas de visão, mas fora isso era, como diz minha mãe, uma velha gaiteira _tanto que desencarnou em São Lourenço, em Minas.

Já no carro, a caminho de casa, chorávamos com soluços baixinhos. Na tarde daquele 1º de Maio, passei horas sentada no sofá com as lágrimas escorrendo em meu rosto. Como o telefone ficava perto, lembro-me de minha mãe fazendo várias ligações e anunciando sempre a mesma coisa.

Me arrisquei a ligar a tevê somente mais à noite. Foi nessa hora que vi, pela última vez, o dia 1º de Maio como o dia da morte de Senna. A partir de 2005, este dia passou a ganhar um novo significado para mim.

E hoje, passados 15 anos sem o piloto e quatro sem minha bisavó, tenho a certeza de que seu Guimarães, o Rosa, estava certo: "As pessoas não morrem, ficam encantadas."

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