terça-feira, 19 de agosto de 2008

Dezenove de agosto

Dezenove de agosto de dois mil e três.

É esse o nome do 21º capítulo de "O Homem que Queria Salvar o Mundo".

Foi na Piauí 21 que li esse texto pela primeira vez. Naquela edição, carregava o título "Um Milhão de Flashes". Na revista seguinte, lá estava a carta de uma leitora comentando o excerto. Falava ter encontrado com Carolina Larriera no ônibus, etc, etc. Era uma carta bonita, na verdade. Um etc não caberia aqui, parece que a pessoa não falava nada de útil.

Dezenove de agosto de dois mil e oito está acabando. Lá se vão cinco anos daquele dois mil e três. E escrevo assim, por extenso mesmo, porque quero registrar a importância dessa data.

Nunca fui uma pessoa muito ligada em datas. Ontem mesmo foi aniversário de uma amiga minha e esqueci de ligar para ela por não lembrar que dia era. Mas dezenove de agosto, esse ficou martelando na minha cabeça nos últimos dias.

Cinco anos. Há cinco anos um caminhão estacionava atrás do Hotel do Canal, quartel general da ONU em Bagdá. Sendo um caminhão-bomba, explodiu. Matou 22 pessoas.

Existia ali um brasileiro. E vivendo em um país que venera os Ronaldinhos da vida, poucos se lembraram de parar, nem que fosse por um momento, para pensar em Sérgio Vieira de Mello.

Sérgio Vieira de Mello conquistou o mundo, mas não conquistou o Brasil. Ganhou documentário e livro no estrangeiro - esse último, lançado aqui nesse fim de semana. Dizendo-se orgulhoso de ser brasileiro, é conhecido por poucos conterrâneos.

Morreu defendendo um sonho, o de ver o mundo mudar.

No dia dezenove de agosto de dois mil e oito, Carolina Larriera não queria ver homenagens. Queria, sim, ver o ideal tão realista de seu ex-noivo vivo.

Em Genebra, Vieira de Mello ganhou um minuto de silêncio. Não sei se era isso que ele queria. Talvez seja a hora de parármos de pensar "puxa, que nobre, um homem morrendo porque queria ver um mundo melhor" e fazermos nós mesmos esse mundo. Não é difícil.

E não digo para irmos ao Iraque, talvez à Géorgia, ajudar os caras que estão em guerra. Falo em andar um pouco mais para jogar o lixo no lixo, tirar a bunda da cadeira do ônibus para deixar a criança sentar. Coisas simples.

O mundo não se muda de fora pra dentro, mas de dentro pra fora.

Acho que Sérgio Vieira de Mello sabia disso.

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