segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Caveirão

Eu vi um Caveirão. Eu só tinha visto Caveirão em foto, uma vez a Piauí fez uma matéria sobre ele. Parece um carro-forte, aqueles de transportar dinheiro. Carro-forte eu já vi de monte. Caveirão, não.

Era perto das onze da noite, cruzávamos a Linha Amarela rumo a Jacarepaguá, Jacarepaguá em que eu nasci e vivi durante os três primeiros anos da minha vida. Foi ali no caminho que apareceu o Caveirão. Vinha correndo do outro lado da via, na direção oposta. Se ficou dois segundos no meu campo de visão, foi muito.

Não parece que tem alguém dirigindo o Caveirão. É um veículo grande e preto que se dirige sozinho.

Diversas outras coisas foram se acumulando à imagem do Caveirão: o sargento avisando que duas viaturas com o TRE estavam subindo o morro, as casas pintadas à vontade do CV e do Primeiro Comando. E o tanque.

Quando saía de lá, vi um tanque com o cano virado para a favela. Do lado dele, duas viaturas do exército. Parecia que só eu notava isso. Assim como só eu notei o Caveirão.

Foi a primeira vez que saí do Rio com o coração pesado. Aquela não é mais a cidade dos banhos de mar, dos passeios na Lagoa. Não é. A minha cidade virou - o quê? Não sei. Virou alguma coisa que eu não conheço mais, uma realidade que eu não conheço mais.

Queria que ela não precisasse de Caveirões.

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