segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O umbigo dos outros

Na sexta-feira, voltei do trabalho de ônibus. Fui direto pro ponto final, sempre conseguia um lugar para sentar quando pegava a condução ali.

Eram seis da tarde.

Veio cheio, bem cheio. Até estranhei. Na hora que entrei, ouvi as reclamações dos outros passageiros: "nós estamos esperando há uma hora, cobrador!" O cara respondeu que ficaram cinqüenta minutos parados em algum lugar, o trânsito tava ruim. Novidade, trânsito ruim em São Paulo.

O troço enchia a cada ponto. Além de ir em pé, me senti uma sardinha em lata.

Começou uma discussão entre um grupo de passageiros sobre o desrespeito da empresa de ônibus. Reclamaram - de novo - com o cobrador, depois se desculparam, sabiam que ele não tinha nada a ver. Iam ligar para reclamar. Mais uma novidade: o transporte público em São Paulo é uma merda. Não tem ônibus suficiente, vive tudo lotado. Puxa, o dia estava cheio de surpresas!

Mas aí aconteceu uma coisa estranha. Todos aqueles passageiros justiceiros começaram a gritar para o motorista não parar em mais nenhum ponto, só se fosse para as pessoas descerem. Não era pra deixar mais ninguém subir.

Já disse, estávamos feito sardinhas em lata. Mas se nós - eles, porque logo que cheguei, o ônibus parou no ponto, esperei uns cinco minutos - esperamos todo aquele tempo, imagina o povo que estava pelo meio do caminho? Essas pessoas não têm o mesmíssimo direito de embarcar que nós tivémos? As mesmas sardinhas que gritavam por respeito aos passageiros estavam, agora, tão ávidos para chegar em casa que não davam chance para mais nenhuma sardinha entrar na festa!

Na verdade, queixavam-se apenas por estarem eles naquela situação. Entendo que queriam chegar logo em casa, eu também queria ir pra casa logo, pombas! Mas assim como nós, as pessoas que esperavam nos pontos também estavam loucos para sair dali. Quem deu o direito de escolher quem entrava? De serem "O Garra"? - assista Toy Story que você vai entender.

Todo mundo olhava para o próprio umbigo. Talvez se olhássemos um pouquinho para o umbigo dos outros, o mundo teria sardinhas muito mais felizes.

Um comentário:

VIVENDOEAPRENDENDO disse...

que tal ciclovias?
tava aqui pensando, pq uma cidade com são paulo, não privilegia esse veículo genial, limpo, verde e saudável?