segunda-feira, 15 de abril de 2013

Meia-entrada e a banalização da corrupção

Sendo o Brasil essa potência em shows internacionais, uma discussão tornou-se recorrente por aqui: afinal, por que precisamos dar um rim se quisermos ir a um evento desses? Não é raro que o preço de um show comece na casa dos 150 reais, sem contas as tais taxas de serviço, o estacionamento, a cerveja cara, etc.

Mas essa só foi uma introduçãozinha para falar que uma das respostas mais constantes à pergunta acima é: meia-entrada. Sim, essa coisa linda que nos permite pagar apenas 150 reais em um ingresso cujo valor cheio é R$ 300, beijos, meia-entrada! É esse o grande problema dos show hiperinflacionados no Brasil? E a lei da oferta e da procura? E a nossa disposição para pagar esses valores absurdos? Será que também conta?

(E vocês vão ficar sem a resposta, já que esse não é o tema do texto. Rá! #Amandamá)

Procuro ir ao cinema pelo menos uma vez por semana. Objetivo que consigo mais ou menos cumprir, de acordo com a grana disponível. Minha ideia é sempre ir durante a semana, de preferência às quartas-feiras, quando o ingresso é mais barato o dia inteiro. Quando vou aos sábado, o preço é salgado: outro dia pagamos 50 reais em dois ingressos do Playarte do Center 3.

Me formei na faculdade e, no momento, não faço nenhum curso que me dê o direito de meia-entrada. Sendo assim, pago o preço inteiro quando quero ir a um cinema, teatro ou show. Porque sou uma pessoa incrível e mereço um prêmio pela minha boa índole? Não, mas fui ensinada desde cedo que, para lutar pelos meus direitos, preciso cumprir meus deveres. E não é meu dever ser uma cidadã correta? Então.

Só que, como bem explicou o colega Fagner Moraes, o certo, hoje em dia, é ser corrupto. A pessoa que não falsifica a meia-entrada é trouxa, o cara que tem o boleto falseta é ~esperto~. O cara que está no guichê do lado com uma carteirinha falsificada provavelmente me acha idiota quando eu peço uma entrada inteira.

O preço do cinema cairia se essa orgia de meia-entradas não existisse? Acho que esse não é o cerne da questão. O que precisa ser discutido é até quando o povo vai aceitar a corrupção do dia-a-dia e reclamar que estão roubando em Brasília? Até quando a pessoa que se acha esperta por falsificar uma carteirinha de estudante vai negar a corrupção até a morte?

Se queremos pagar o justo por uma entrada de cinema, de show, de teatro, precisamos lutar por esse direito, lógico. Mas essa luta não passa pelo barco da corrupção - e nem venham falar em ~jeitinho~, porque ~jeitinho~ é a corrupção travestida de boazinha.

Por ora, só nos resta engolir o preço absurdo que pagamos pelas coisas aqui no Brasil e sermos os trouxas que pagam o ingresso cheio. E os corruptos bradam contra a corrupção enquanto compram uma meia-entrada ~no esquema~ para o próximo Rock in Rio.

PS: no post do Fagner o Marcelo Soares fez um comentário excelente que reproduzo abaixo. para pensarmos da próxima vez em que comemorarmos a carteirinha de estudante válida por um ano para aquele curso de três meses.

Simples. Se você é contra, não use sua carteirinha de estudante. Em 2011, eu comecei a fazer pós-graduação e larguei no meio. A carteirinha valia até o final de 2012. Eu simplesmente não usava, porque sou contra o mau uso da carteirinha. Meu salário não é tão ruim que me impeça de ir ao cinema pagando dobrada (que por marketing é chamada de inteira), por menos que eu goste disso. Mas eu SEI que quanto mais gente pagar meia indevidamente, pior fica o preço pra trouxas como eu.

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