quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Um texto que não é só sobre cabelos

Dizem que uma grande mudança de vida vem acompanhada por uma grande mudança no visual, e vice-versa.

Nada disso passou pela cabeça quando eu resolvi entrar para o time das ruivas de farmácia, mas acabou que vida e cabelo se cruzaram e, sim, entrei para o ranking das "grandes-mudanças-na-vida-grandes-mudanças-no-cabelo".

É um desejo de criança. Achava o universo ruivo a coisa mais massa do mundo, venerava Lindsay Lohan (sim, é verdade) e sonhava com a cor 77 da Loreal todos os dias.

Foi assim que, lá pelo final de janeiro/começo de fevereiro - aliás, exatamente pelo final de janeiro/começo de fevereiro -resolvi pintar o cabelo.

Como são as coisas. A adesão à ruividez coincidiu com outro momento decisivo da vida. É daquelas horas em que a gente precisa se despedir, mesmo não querendo. Em que a distância faz-se necessária para evitar futuras dores - mas não evita, na verdade.

Já refleti longamente sobre isso por aqui. Mas não falei uma coisa: foi no dia em que fiquei ruiva que histórias de separação passaram a doer forte no peito. Qualquer uma. Do casal famoso que acabou o namoro à fulana que vai morar longe dos amigos. Fui viajar e a cada pessoa que eu me despedia nos meus 20 dias de mochilão, o peito doía cada vez mais. A cada lugar. A cada castelo. A cada paisagem. Uma lágrima chegou a cair quando me vi na King's Cross pronta para embarcar pra Edimburgo.

Foi quando fiquei ruiva que desaprendi ainda mais a me despedir. Cada tchau dói mais desde então. Assim como doem os nunca e os pra sempre, porque a gente acredita, mesmo sabendo que não é verdade.

Ao contrário do que eu esperava, passei a amar mais. Os amigos, a família, as viagens, a arte, a música, o trabalho. Porque, apesar da dor ser muito mais forte quando a gente se despede, a gente sabe que aproveitou cada momento - foi o Ale que me ensinou isso. A gente sabe que viveu.

As saudades apertam de vez em quando - e a essa altura do campeonato, já estou com os olhos cheios de lágrima, sorte que foi todo mundo almoçar fora. Mas aí eu olho pro espelho e percebo que preciso retocar o ruivo dos cabelos. E aí tudo volta a ficar bem.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Quando vi Elvis cantando

Um show de uma pessoa que já morreu é algo difícil de ser concebido. E de um morto há 35 anos, então, como proceder? Eu era uma das milhares de pessoas no Ginásio do Ibirapuera prontas para ver um dos quatro espetáculos de Elvis em São Paulo. "Elvis". Elvis já morreu, mas, ali, naquele palco, ontem à noite, parecia mais vivo do que nunca.

Mérito de sua banda, ou dos membros que sobraram. O tempo, afinal, passa para todos. Mas estavam lá alguns nomes fortes, como James Burton, The Imperials, Sweet Inspirations e o Steven Spielberg baterista - aka Robson Crusoé lá nos anos 70. Vou falar uma coisa para vocês: nunca um grupo de senhores me conquistou tanto quanto esse. Todos com uma energia de quem está fazendo algo por puro amor. Coisa linda de se ver. Saí de lá encantada por todos e triste porque, provavelmente, nunca mais tereia chance de vê-los em ação de novo.

Mérito da orquestra (OSESP?). Especialmente em An American Trilogy, uma das minhas músicas preferidas e que tem o instrumental mais foda que já vi. O flautista brasileiro não deixou nada a dever em seu solo, assim como a violinista em My Way. Tudo lindo, lindo, lindo.

Mérito da Elvis Enterprises e da 2Share, que produziram um show desses. O telão, o som, tudo faz crer que Elvis está ali, mesmo. A edição dos vídeos é surpreendente, com o cantor ~interagindo~ com a plateia o tempo todo. É um espetáculo.

Mérito, acima de tudo, de Elvis, que deixou um legado desses. Juntar gerações em torno de uma figura morta há 35 anos não é para qualquer um. Ninguém conseguiria explorar sua imagem tão bem se não houvesse nada para ser explorada. Minha mãe se emocionou com o show. Eu me emocionei. Minha irmã se emocionou. Foi uma coisa linda ver a plateia cantando Bridge Over Troubled Water, foi arrepiante ouvir Elvis cantando My Way ou os Imperials o acompanhando em How Great Thou Art.

Não importa o quanto eu escreva, nada vai descrever com exatidão o que foi a noite de segunda-feira naquele ginásio. O mais próximo que cheguei a isso foi, em um tweet, me localizar em uma ElvisWeek fora de época. Era amor, felicidade, emoção. Tudo junto para poder assistir a um verdadeiro espetáculo.

A única bola fora: o Uol decidiu divulgar um app convidando Cássio Reis para subir ao palco. Recebeu vaia, fiquei até com dó. Mas, que me perdoem as fãs dele, ninguém estava lá para ver o cara. Total #fail.